*Por
Marco Antonio Chiquie
“Aprender é a única coisa que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende” Leonardo da Vinci (1452-1519).
Esta talvez seja a
conclusão do gênio universal para explicar sua própria capacidade em absorver
tanto conhecimento em tantas áreas da ciência num período tão curto de tempo,
ou seja, uma vida.
Desde a época em que a
humanidade ainda desenhava os caminhos para a definição dos conceitos dos
sistemas da sociedade moderna, até os dias de hoje, muito se investiu em
sistemas de ensino e educação em massa e isso certamente foi o propulsor da
fantástica evolução dos povos e suas nações.
A ciência que rege a nossa
própria existência foi, em grande parte, desvendada e sua aplicação na longevidade
e conforto jamais seria utilizada se o conhecimento não fosse compartilhado com
a grande massa.
Isso significa que é cada
vez maior a dependência de um país por eficiência e capacidade de disseminar o
conhecimento. Os países que melhor desenvolverem sistemas de ensino e educação
estarão mais abertos a receber os resultados da evolução da humanidade e
estarão mais aptos a garantir condições de vida aos seus habitantes.
Não é novidade a nenhum
brasileiro a deficiência de nosso país na capacidade de levar conhecimento e
educação a sua população. Seja por falta de politicas adequadas ou por falta de
investimento, ainda não desenvolvemos sistemas de educação adequados a nossa
realidade e, assim, estamos atrás na corrida do desenvolvimento.
Neste momento em que o
Brasil atravessa fase de crescimento econômico, estamos sentindo claramente o
resultado da ineficiência do sistema educacional brasileiro, pois há falta mão
de obra especializada em diversos setores para levar adiante as conquistas do
crescimento econômico e isso poderá ser um dos entraves para a continuidade do
crescimento devido à perda de produtividade e competitividade de nossas
empresas em relação a seus pares em outros países.
Há algum tempo, escrevi um
texto onde citava a lei de informática no Brasil, vigente até o final dos anos
80 como um dos responsáveis pelo atraso tecnológico do país. Entre outras
coisas, disse que a lei fracassou por não ter sido acompanhada por uma política
educacional para desenvolvimento de profissionais para o setor, principalmente
para a indústria de software.
Não por acaso, é
justamente no setor de tecnologia que nos deparamos hoje com um dos maiores
déficits de mão de obra especializada. Segundo dados de pesquisas, até 2014
haverá necessidade de 80 a 90 mil novos
profissionais de TI, mas apenas 35 mil estarão entrando no mercado.
Segundo estes dados, as
maiores demandas de profissionais de TI por função, entre 2003 e 2010, foram:
analista desenvolvedor de sistemas, analista de suporte, programador de
sistemas de informação, técnico em manutenção de equipamento, help desk e
engenharia da computação. Esses cargos representam 93% das contratações no
país.
Outro problema apontado
pela pesquisa é o índice de evasão escolar, que nestes cursos é superior a 60%,
o que pode significar deficiência de direcionamento do ensino básico para os
cursos do setor. Além disso, o Brasil possui muito mais instituições privadas
do que públicas que oferecem cursos de TI, o que também pode explicar a forte
evasão, seja pela qualidade do ensino, como pela incapacidade do aluno em
cobrir as despesas ao longo do curso. Das 584 instituições de curso superior
relacionados a TI, 478 são privadas, ou seja, 84,6% das universidades são
pagas.
Em decorrência desta
situação, os salários de TI crescem acima da inflação na maioria dos estados
brasileiros desde 2003 e assim a remuneração média da área é quase o dobro da
nacional, o que também impacta na competitividade das empresas brasileiras por
aumento de seus custos administrativos.
Para os distribuidores
especializados em TI, a carência de mão de obra especializada afeta diretamente
o preenchimento dos quadros de especialistas de produtos e de técnicos de
manutenção de equipamentos. Já nos revendedores, é flagrante a falta de
técnicos e de prestadores de serviços de instalação e configuração de
equipamentos e softwares.
Indiretamente, a
consequência é bem mais séria, pois afeta principalmente a decisão de
investimento das corporações e o tempo de conclusão dos projetos, impactando diretamente na demanda dos negócios do setor.
Diante da situação, muitas
alternativas estão sendo desenvolvidas pelas empresas para cobrir as vagas
abertas, principalmente capacitando e evoluindo pessoal interno, porém estas
alternativas não serão suficientes para resolver o problema e não há de fato
solução.
Enquanto aguardamos
politicas públicas de longo prazo para a educação, infelizmente teremos que
conviver com o risco de estrangulamento do crescimento do país como alternativa
a escassez de profissionais pela redução da demanda, o que pode levar à perda de
parte das conquistas realizadas ao longo dos últimos 15 anos.
*Marco Antonio Chiquie é Diretor da ABRADISTI, Associação Brasileira de Distribuidores de TI e Diretor Geral da AGIS
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